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Foto: Flickr Bahia Oficial-técnico Cristóvão Borges |
Todos que gostam de futebol e
acompanham o Campeonato brasileiro nas suas duas divisões, mas, não haviam
parado ainda para fazer uma avaliação, para analisar, a questão do racismo no
futebol, que já atinge com muita freqüência o corpo técnico dos grandes clubes,
não se surpreenderia. Seria o Cristóvão Borges uma exceção? De todos os treinadores
das Séries A e B do Campeonato Brasileiro ele é o único negro. A estatística, para alguns, não é por acaso.
Traduz apenas o racismo velado que existe no futebol brasileiro. Uma excludente
e silenciosa punição por ser negro. Uma característica do crime por trás dos
bastidores. O tema já foi levantado anteriormente pelo técnico Lula Pereira.
Segundo ele, o preconceito é claro. Ele disse que já ouviu uma declaração de
uma dirigente para justificar sua não contratação: ”O pessoal do clube gostou do seu perfil,
mas, me desculpe. você é preto”.
O assunto incomoda a muitos, mas, poucos
aceitar falar sobre esse assunto. Porém, essa semana o tema foi abordado junto
a uma personagem chave, o técnico do E. C. Bahia, Cristóvão Borges. A resposta
veio sem muitos rodeios, em uma conversa com o repórter João Gabriel Leal, do
Site Esporte Interativo. Cristóvão sabe que o mercado exclui. "O
que eu percebo, e acho que tem a ver com a cor, é que a tolerância é bem menor.
Se você procurar no cenário do futebol, é raríssimo um treinador negro. Então,
alguma coisa tem que ser prestada a atenção", disse o técnico do
tricolor baiano.
Ele levanta a bandeira de que a competência deve ser levada em consideração,
e que o trabalho é a única forma de combater E com relação a isso, nesse ponto,
avalia estar bastante tranqüilo. "O que eu acho é que,
independente de cor, tem que ter preparo. E acho que me preparando, nada disso
vai me atrapalhar. Então, não tenho dificuldades, não tenho problemas em
relação a isso", afirmou. "Tenho a sensibilidade para
perceber que existe preconceito, sim, e que a tolerância é diferente nesse
caso", enfatiza.
Cristóvão Borges, que quando auxiliar técnico, substituiu o então técnico Ricardo Gomes após sofrer AVC, em agosto de
2011. Ainda atuando como interino, no começo do ano passado, ele levou o
Vasco ao vice-campeonato brasileiro e em 2012, as quartas de final da Taça Libertadores
da América. Mas, muito cobrado pela torcida, não resistiu à queda de produção do
time e foi obrigado a deixar São Januário em setembro. “Quando o Cristóvão saiu
do Vasco, eu disse que ele dificilmente conseguiria emprego em outro grande
clube brasileiro”, disse Cláudio Adão a época, ex-técnico de Volta Redonda e CSA/AL.
Só que hoje Cristóvão faz um excelente trabalho pelo Bahia, que é uma grande
equipe do futebol brasileiro, onde também reafirma a sua condição de bom
profissional, exemplo de determinação e competência,tudo isso traduzido no atual momento do clube.
Para que a queixa tenha uma procedência
vista a olhos nus, podemos juntar a tantas outras, a de que não há um negro comandando o banco
dos clubes que disputam os campeonatos Paulista e Carioca deste ano, os
principais estaduais do país. “Infelizmente, o negro é tratado como
analfabeto no futebol”, diz Cláudio Adão. A discussão em torno do suposto
racismo ainda é tabu nos vestiários e nos estádios. O tema foi Capa da edição de março da revista Placar.
Na visão do técnico Lula Pereira, a dificuldade
em se recolocar no mercado é agravada pela escassez de negros na gestão do
futebol. “Não temos dirigentes ou presidentes de clubes e federações negros.
Assim é impossível romper a segregação e as barreiras que enfrentamos”, foi categórico.
Texto: Roberto Leal
Fontes: Revista Placar/Esporte Interativo